O ISCAL assinalou, em ambiente de solenidade e celebração, os seus 266 anos de história. A sessão comemorativa teve lugar no Auditório I do Instituto e reuniu membros da presidência do Politécnico de Lisboa (IPL), presidência do ISCAL, comunidade docente e não docente, estudantes e antigos colaboradores.
A data evoca a criação da antiga Aula do Comércio, instituída em 1759. A cerimónia procurou sublinhar o legado e os desafios do ISCAL, destacando o compromisso contínuo com o ensino superior politécnico de qualidade, a investigação aplicada e o serviço à comunidade.
Um percurso de excelência e dedicação
A sessão teve início com a intervenção do Professor António Belo, presidente do IPL, que saudou todos os presentes e relembrou a longa trajetória do ISCAL, destacando que “muito poucas instituições de Ensino Superior se podem orgulhar de uma história que remonta a 266 anos, desde a génese da antiga Aula do Comércio até à instituição que o ISCAL representa hoje”. Referiu as várias fases de transição e a integração no IPL, sublinhando os desafios que se colocam ao Ensino Superior, especialmente com a iminente nova legislação. Sublinhou ainda o empenho do ISCAL em fortalecer a qualificação do corpo docente - que viu duplicar a percentagem de professores doutorados nos últimos anos - e a excelência da investigação científica, fatores essenciais para a oferta formativa que visa incluir, a médio prazo, também o terceiro ciclo. Para o presidente do IPL, a cooperação é fundamental, tanto entre os vários membros da comunidade do ISCAL como com outras instituições do IPL e do Ensino Superior Nacional e Internacional.
Na sua intervenção, Rui Almeida reforçou o papel do ISCAL como uma instituição dinâmica e adaptável, mesmo com os seus 266 anos de existência. “O ISCAL está vivo, não está velho, está apenas idoso — mas todos os dias se renova e enfrenta os desafios da contemporaneidade”, afirmou. O presidente do Conselho de Representantes referiu a necessidade de repensar o papel do professor face às novas realidades pedagógicas e tecnológicas, incluindo o impacto da inteligência artificial no ensino. Salientou ainda o contínuo esforço do ISCAL para acompanhar as tendências da ciência da contabilidade e da inovação pedagógica, mantendo-se assim na vanguarda do Ensino Superior.
Já Jorge Rodrigues, em representação do Conselho Técnico-Científico, sublinhou que “O corpo docente de uma instituição do Ensino Superior constitui o seu maior ativo estratégico”, apontando para os 58% de docentes doutorados em 2024 e o reforço da publicação científica, com 49 artigos indexados, 82 não indexados, 20 livros, 34 capítulos de livros e 4 working papers.
Reconheceu, porém, a necessidade de reforçar a integração dos docentes em centros de investigação acreditados e melhorar a articulação entre projetos de investigação e trabalhos académicos. Enalteceu ainda o esforço coletivo em organizar eventos científicos e envolver alunos em investigação, terminando por felicitar os colaboradores com mais de 25 anos de serviço e os parceiros que apoiaram a recuperação do património azulejar do ISCAL.
Carla Martinho, presidente do Conselho Pedagógico, destacou o papel transformador da comunidade académica e evocou o contributo de todos os que passaram pelo ISCAL. “Esta história não se faz apenas de permanência — faz-se, sobretudo, da capacidade de transformar, de inovar, de pensar diferente”, afirmou, deixando uma homenagem sentida aos professores Carlos Caldeira e Gabriel Alves, que recentemente partiram: “Marcaram profundamente o ISCAL, não apenas pelo saber, mas pela forma como o partilhavam.” Carla destacou a importância da inovação e da capacidade de transformação, afirmando que “o verdadeiro espírito académico vive da transparência nas relações, da honestidade intelectual e da generosidade na partilha e transferência de saberes.” Enfatizou que os estudantes são “a razão de ser do nosso trabalho e parte essencial da nossa memória coletiva”, impulsionando o ISCAL a crescer “com eles e por causa deles.”
Manuel Machado, presidente da Associação de Estudantes (AEISCAL), sublinhou o legado do ISCAL. Para ele, o ISCAL é “uma referência no ensino superior politécnico, não apenas em Lisboa, mas a nível nacional,” graças ao esforço conjunto de docentes e estudantes que formam “jovens criativos, disciplinados, responsáveis e preparados para os desafios do mercado de trabalho.” Reconheceu os desafios ainda existentes: “É essencial reforçar as condições de infraestrutura, apostar na modernização dos espaços de aprendizagem, dar resposta às preocupações dos estudantes, e simplificar processos que por vezes dificultam a vida académica.” Finalizou com um agradecimento à cooperação entre a Associação e a direção do ISCAL, afirmando que “nestes últimos dois anos conseguimos provar a importância na cooperação nas atividades e nos bons resultados que foram obtidos.”
Apelo à coesão e à identidade do ISCAL num Ensino Superior em transformação
Um dos momentos centrais da cerimónia foi a intervenção do Presidente do ISCAL, Professor Pedro Pinheiro, que fez um balanço da realidade do Ensino Superior e do papel que o ISCAL tem vindo a desempenhar.
“Hoje é também para mim um motivo de satisfação pelo facto de ver este auditório praticamente cheio e, acima de tudo, de ver esta família mais unida. Diferentes pessoas com diferentes ideias, com diferentes orientações do ponto de vista estratégico, a partilharem um momento que é o momento de todos. Porque, acima de tudo, esta é uma casa de todos.”
O Presidente destacou os desafios atuais do Ensino Superior em Portugal, apontando a crescente pressão exercida por um modelo mais mercantilista. Sublinhou também as exigências criadas pela nova legislação de empoderamento do ensino e a incerteza quanto ao financiamento estatal, alertando para a necessidade de adaptação.
“Estamos a braços com a nova legislação de empoderamento do Ensino Superior, que nos vai trazer oportunidades se nós estivermos devidamente posicionados para ele.(...)O anterior ministro foi muito claro ao afirmar que não via com bons olhos o aumento do financiamento do Ensino Superior.”
Apesar das dificuldades, Pedro Pinheiro mostrou-se confiante na capacidade do ISCAL de manter a sua identidade e a sua missão.
“O ISCAL não pode de forma nenhuma descaracterizar-se. Nós temos que conseguir perceber qual é o posicionamento do ISCAL, o que é que nos trouxe até aqui ao longo de mais de dois séculos.(...)Não podemos partir em demandas loucas que nos levem para um terreno que não nos é um terreno favorável.”
Enfatizou a importância da união e da cooperação entre todos os membros da comunidade iscalina: “Só venceremos se conseguirmos remar todos para o mesmo lado.(...)Não podemos continuar com separatismos.(...)A divergência de opinião é salutar, sim, ter a capacidade de ouvir, de discordar e discutir, são tudo predicados que uma instituição de Ensino Superior deve ter.”
O Presidente destacou ainda a elevada taxa de empregabilidade dos diplomados do ISCAL e os inúmeros projetos de cooperação internacional em curso:“Nós temos 97% de taxa de empregabilidade. Os nossos perfis são procurados pelas maiores empresas em Portugal.(...)Temos hoje, para ser assinado na próxima semana, um protocolo conducente a um duplo grau com uma Universidade Pública Alemã. Temos um mestrado conjunto no âmbito da Universidade Europeia, ciclos de estudos com a Universidade de Frankfurt, parcerias em Cabo Verde, Macau, Moçambique, Brasil, República Checa, Eslováquia, Alemanha, Espanha...”
Num apelo emocionado à comunidade, o Presidente reforçou a necessidade de valorização interna e da superação do “complexo de inferioridade”: “O ISCAL é uma instituição que não tem, na maior parte dos itens, que se sentir inferior a ninguém.(...)Continuamos muitas vezes a olhar para nós próprios e a dizer que o vizinho do lado é melhor. Não é. Nunca foi, não é, e, no que depender de nós, continuará a não ser.”
Pedro Pinheiro frisou que a inteligência artificial e as novas tecnologias não são uma ameaça, mas sim uma oportunidade para reinventar o ensino:“Desenganem-se os que acham que vão continuar a dar aulas como deram até aqui.(...)Mas também se desengane quem vai para o mercado de trabalho a pensar que o mercado vai ser o mesmo. Os ciclos de evolução são cada vez mais rápidos. As escolas têm que ter cada vez maior capacidade de se reinventar.”
A concluir, deixou um apelo direto:“Ao longo deste último ano de mandato, por favor, foquem-se nos 99% que estão bem. Porque isso é que é o ISCAL. O ISCAL é essa máquina que dura quase 300 anos e que continua a ser reconhecida no mercado.(...)Não chega só um. Chegamos todos. E é aí que eu quero chegar em abril de 2026.”
Homenagens e memória institucional
Seguiu-se a cerimónia de reconhecimento de docentes e colaboradores. Entre os anteriores presidentes da instituição homenageados, a Professora Maria Amélia, que recordou com vivacidade os 250 anos da Aula do Comércio. “Recordo com muita alegria esse ano. Fizemos conferências, uma abordagem à numismática e à filatelia, e tivemos até a presença do décimo Marquês de Pombal. Cunhámos 250 medalhas de prata para assinalar a data. Oxalá, nos 300 anos, se faça uma festa com ainda mais dignidade”, declarou.
O Professor Orlando Gomes, anterior Presidente do ISCAL, não escondeu o orgulho do legado de Pedro Pinheiro pelo presente e o futuro da instituição: “O excelente trabalho que o Pedro tem feito e que certamente vai continuar também nos próximos quatro anos. É uma pessoa de consenso, é uma pessoa que ajuda toda a gente, é uma pessoa que tem uma vontade enorme de pôr tudo a funcionar como deve ser. Precisamos de mais Pedros no ISCAL, precisamos que toda a gente colabore e é essa a mensagem".
A vice-presidente, Professora Ana Alice Pedro, procedeu à entrega dos prémios aos colaboradores que encerraram formalmente as suas carreiras, referindo que “existem pessoas obviamente que fazem parte da casa, fazem parte da nossa história e independentemente do tempo de serviço, ou até mesmo da categoria ou da profissão, colaboraram com o ISCAL, contribuíram para que o ISCAL seja aquilo que é hoje em dia”.
Já o Professor José Luís Silva, responsável pela entrega dos prémios de dedicação, aos colaboradores com mais de 25 anos de serviço, começou por expressar a honra de partilhar aquele momento especial, destacando a importância de valorizar a história para construir o presente e o futuro. “Quem não honra o passado, não consegue preparar o presente nem ver o futuro”, afirmou, ecoando as palavras do presidente Pedro. O vice-presidente realçou: “Ainda não cheguei lá, mas tive o privilégio de trabalhar com todos os homenageados de hoje”.
A celebração dos 266 anos do ISCAL terminou com um momento artístico, onde duas estudantes da Escola Superior de Dança, Leonor Pereira e Eduarda Carreira, interpretaram ”Movimiento Perpetuo” de Marcos Morau.
Esta sessão reafirmou o papel do ISCAL enquanto instituição de referência no Ensino Superior Nacional, sustentado numa comunidade coesa e comprometida com o rigor, a inovação e a responsabilidade social.